domingo, 28 de novembro de 2010

Técnicos do Teatro de Cultura Popular iniciam greve

Com os salários atrasados há um ano e quatro meses, os técnicos do Teatro de Cultura Popular Chico Daniel, anexo da Fundação José Augusto, resolveram iniciar paralisação em protesto a partir desta quinta-feira (25). Assim, a programação da 5ª Mostra de Cinema e Direitos Humanos, parceria com a Petrobras, será interrompida.
O palco do teatro vai ficar sem luz e sem música enquanto os doze funcionários (técnicos da produção de palco, vigias, bilheteiros e indicador) não obtiverem uma resposta definitiva da FJA sobre seus pagamentos.
“Queremos respostas concretas. Durante todo esse tempo só escutamos a promessa de que vão nos pagar, mas até agora não recebemos nada. Ninguém aqui está prometendo trabalhar, nós estamos trabalhando”, disse o auxiliar técnico de iluminação Wellison Azevedo, que é também músico e ator.
“Todos nós temos alguma atividade paralela, sempre na área cultural”, justifica a permanência no cargo, ao lembrar que a administração sempre atrasou muitos salários durante os cinco anos de existência da casa. Acúmulo de até oito meses atrasados era constante, de acordo com Wellison.
A Assessoria de Imprensa da Fundação José Augusto informou que a instituição foi “surpreendida” pela greve e que nenhum comunicado oficial foi feito.
A informação é de que o pagamento deveria ser efetuado pela diretora do TCP, Sônia Santos, graças a um Memorando emitido pelo presidente da FJA, Crispiniano Neto. O documento determinou que nenhum funcionário deveria ser contratado para trabalhar nos equipamentos da Fundação, a não ser sob responsabilidade de cada gestor.
De acordo com a diretora do Teatro, o problema da falta de pagamentos se repete porque o TCP não é regulamentado.
“O Teatro completou no dia 2 de agosto, cinco anos de atividades ininterruptas. Até a presente data, é o teatro de referência para toda a classe artística do Estado e da cidade, mas foi inaugurado, construído com dinheiro do Governo e ainda não existe oficialmente no organograma da Fundação”, explicou a dificuldade em conseguir verba.
De acordo com a Assessoria de Imprensa, o pagamento deve ser feito a partir da arrecadação das pautas (que custam R$ 250, cada), mas Sônia Santos diz ser impossível conseguir o suficiente, já que 40% das pautas são isentas e é também por este meio que se mantem o teatro, financiando a limpeza, aluguéis de equipamento e material básico.
Sônia disse ainda que no dia 22 de julho foi solicitada verba complementar para pagar aos técnicos, mas o Governo não autorizou a liberação dos recursos. Ela continua, lembrando que Crispiniano diz não gostar dessa alternativa, mas que a contragosto assinou o pagamento através de processos indenizatórios por duas vezes.
“Seria muito bom se a gente não precisasse pedir dinheiro ao Estado. Eu, muitas vezes, tenho colocado do meu. Falta água, copo, material de limpeza e eu não posso deixar assim. Faço isso mais como artista”, confessa.
Como saída para o impasse, Sônia Santos revela que o presidente Crispiniano Neto chegou a sugerir o fechamento da casa.
“Quem diz o que é o TCP são os artistas. Ali é a casa deles. Não se fecha um teatro como se fecha uma mala qualquer. Ele está ali para promover a Cultura, que é função do Estado. Se não houve competência, boa vontade, mecanismos para manter um teatro que é considerado referência, a gente não pode fazer nada”, diz, com certa revolta por acreditar ter se doado sempre.
“Eu entrei em um lugar que me foi confiado, eu o coloquei para funcionar com dignidade e com muita coragem. Vivo teatro há quarenta anos, é uma questão de honra continuar”.

Por Isabela Santos - Portal nominuto.com

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